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Suicídio é um assunto que vai além de seriados e jogos de internet

Doenças psicológicas não tratadas aumentam as chances de atos suicidas. O tratamento especializado e a colaboração de amigos e familiares podem prevenir o suicídio

Falar sobre o suicídio ainda é assunto que não possui devido destaque na sociedade, mas é um grave problema que precisa ser explorado. Segundo dados da BBC Brasil, entre 1980 e 2014, a taxa de suicídio entre jovens de 15 a 29 anos aumentou 27,2% no Brasil. O índice perde apenas para homicídios e acidentes de trânsito entre as mortes por fatores externos (o que exclui doenças).

O assunto é preocupante e deixa marcas em todo o ciclo de relacionamento da pessoa que cometeu o ato, além de ser algo que assusta a sociedade. Mas, o suicídio ocorre por uma série de fatores que são desencadeados anteriormente, porém, muitas vezes, a rede de apoio que está ao redor não consegue perceber quem possui tendência para atos suicidas, além de não acreditar quando alguém diz que pode cometer suicídio.

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Psicólogo Florêncio M. Costa Junior

“Entre os fatores psicológicos que predispõe ao comportamento suicida são: perdas pessoais, dificuldades nas interações familiares; medo e desesperança quanto ao futuro; perturbações mentais, tais como, depressão, experiências de abusos; perturbação da personalidade, esquizofrenia, abusa de álcool e de substâncias; sentimentos de baixa autoestima ou de desesperança; problemas relacionados à sexualidade e baixo repertório para enfrentar problemas. A presença de comportamentos impulsivos, agressivos e humor que oscila entre euforia e depressão também são condições que predispõe ao suicídio”, destaca o psicólogo clínico, Dr. Florêncio M. Costa Júnior, do Instituto de Análise do Comportamento Bauru (IACB).

A depressão pode ser considerada uma das principais doenças que favorecem o suicídio. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o Brasil é o país campeão mundial do transtorno de ansiedade e o quinto em número de pessoas com depressão. A doença ainda é encarada por muitos como apenas uma tristeza passageira, mas não é. A pessoa que está em depressão possui fragilidade emocional extrema, aumentando as chances de desenvolver a vontade de cometer suicídio, pois acredita que seja a única forma para a solução de seus problemas.

“É importante ressaltar que uma pessoa com depressão não é necessariamente uma pessoa deprimida o tempo todo. Alguns aspectos que podem indicar depressão são o afastamento das pessoas próximas, como amigos e familiares, falas ou comentários autodepreciativos, pessimismo e falta de propósito quanto ao futuro. A perda de interesses combinados com sentimentos de tristeza, raiva e episódios de irritabilidade, também podem ser fatores relacionados ao suicídio. É preciso estar próximo deste indivíduo e tentar minimizar o seu sentimento de isolamento”, afirma o psicólogo.

Por conta desta fragilidade emocional, pessoas que estão sofrendo de problemas psicológicos tentam buscar soluções ou identificações de situações semelhantes as que estão vivenciando. A série de ficção, 13 Reasons Why, da Netflix, por exemplo, se baseia em explorar os motivos que levaram a jovem personagem Hannah Baker a cometer suicídio.

“Ainda não existem dados que possam afirmar que a série 13 Reasons Why contribui para o desenvolvimento de problemas emocionais para quem assiste aos episódios, porém, o seriado apresenta um viés romântico de uma tragédia e o suicídio é retratado com uma vingança e justiça. Além disso, a história ilustra com detalhes o comportamento suicida partindo do planejamento até a execução. Esses aspectos são bastante negativos, entretanto, o seriado trouxe evidência ao tema e de fato estamos falando mais sobre isso”, destaca Florêncio.

Ao identificar sinais de fragilidade emocional ou indícios que podem ser considerados como fatores relacionados à depressão ou doenças psicológicas, torna-se necessário que haja muita atenção e cuidados, pois na maioria dos casos, quem sofre destas doenças não consegue perceber que a ajuda é fundamental para o tratamento, como a presença de amigos, familiares, consultas psicológicas ou psiquiátricas e, muitas vezes, este tipo de auxílio pode evitar posteriormente que as doenças se agravem e que a pessoa desperte o desejo de tirar a própria vida.

“Para ajudar uma pessoa com risco de suicídio é necessário estar disponível para acolher emocionalmente e evitar ter atitudes ou falas que invalidem o que a pessoa está passando ou sentindo, como por exemplo, ‘mas a sua vida é tão boa, não tem motivos para você pensar nisso’. Quanto mais abertamente a pessoa em sofrimento falar sobre seus sentimentos de perda, isolamento e desvalorização, as emoções se tornam menos intensas. Fazer um acordo ou promessa com o indivíduo com risco suicida de que ele ou ela não vai cometer o ato, pode ser uma estratégia importante nesse momento até que consiga o atendimento de alguém especializado”, alerta o psicólogo, Florêncio M. Costa Júnior.

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