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Proximidade do final de ano pode aumentar sintomas de ansiedade e depressão

Metas que ainda não foram batidas, objetivos a serem realizados, trabalho a fazer e as férias chegando. Veja como a ansiedade pode interferir neste momento de final ano

Sentir o corpo suar frio, as mãos trêmulas, a voz que parece presa na garganta, o corpo com manchas e o coração acelerado. Esses sintomas apresentados podem se encaixar ao perfil de uma pessoa que sofre de extrema ansiedade, sempre que colocada a uma situação de desconforto ou diante de uma tarefa para executar.

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Médica psiquiatra do IACB, Dra. Melissa Chagas Assunção de Mello

“Hoje em dia, a ansiedade excessiva é uma queixa extremamente frequente, mesmo em rodas de conversas com familiares e amigos, mas, principalmente, nos consultórios de psiquiatria e psicologia. A ansiedade é um sentimento natural e que faz parte do cotidiano, como também medo, tristeza ou alegria. A ansiedade pode ser positiva enquanto impulsiona as pessoas, criando expectativas, melhorando o desempenho ou ajudando a atingir os objetivos. O grande problema ocorre quando a ansiedade deixa de ser uma aliada e começa a prejudicar, a atrapalhar o desempenho, trazer limitações e causar sofrimento”, explica a médica psiquiatra, Dra. Melissa Chagas Assunção de Mello, do Instituto de Análise do Comportamento de Bauru (IACB).

Segundo a psiquiatra, normalmente no final do ano as pessoas estão sobrecarregadas com diversas tarefas a cumprir. “Esta época costuma ser um período de reflexão e avaliação do ano e da vida como um todo. Muitas vezes, o estresse gerado por essa sobrecarga, aliado a sentimentos de frustração em relação a metas que não foram cumpridas ou objetivos que ainda não foram alcançados, pode gerar sentimentos de angústia, baixa autoestima e impotência, que associados a um perfil de elevada cobrança pessoal, podem levar a um ciclo de mais sentimentos de frustração e propensão à ansiedade exagerada”, comenta.

A psiquiatra explica que essa ansiedade exagerada, que prejudica o funcionamento global do indivíduo e traz sofrimento, é chamada de “ansiedade patológica” e pode cursar com diversos sintomas. “Alterações do sono, com dificuldade em conciliar o sono porque ‘a cabeça não desliga’, preocupações exageradas e constantes, como pensamentos repetitivos e intrusivos, que ‘invadem a cabeça’ constantemente, conhecidos como pensamentos obsessivos, sentimentos de tensão crônica com dificuldade de relaxar, dores de cabeça e musculares, podendo chegar em alguns casos a crises agudas de ansiedade, também conhecidas como ‘crises de pânico’, que podem se apresentar com taquicardia, sudorese, tremores, falta de ar ou sensação de sufocamento, tontura, náuseas ou outros sintomas físicos extremamente desconfortáveis”, detalha.

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Psicóloga clínica do IACB. Dra. Alessandra Salina Brandão

A psicóloga clínica, Dra. Alessandra Salina Brandão, também do IACB, reflete que é necessário procurar interpretar a ansiedade. “Uma das formas de se interpretar a ansiedade é pensar em um conjunto de reações do corpo que sinalizam ao indivíduo que algo em seu ambiente é ameaçador. Nesse sentido, torna-se importante discutir aspectos individuais e culturais relacionados a esse fenômeno. No âmbito pessoal, verifica-se que nem sempre um evento que é ameaçador para uma pessoa também será para outro indivíduo e, desse modo, constata-se que algumas características pessoais como, dificuldades para resolver problemas, necessidade excessiva de avaliação positiva, uma história pessoal de muita exigência e déficits de habilidades sociais podem potencializar alguns eventos cotidianos e esses se tornarem muito ameaçadores”, diz.

Para a psicóloga, é preciso que sejam considerados que o desenvolvimento dessas habilidades envolve uma leitura muito cuidadosa do ambiente, pois, as pessoas vivem em um contexto social que valoriza a aceleração, a auto cobrança excessiva e, em muitos momentos, pune os comportamentos de flexibilidade.

O que acontece com o corpo

As pessoas possuem um mecanismo de defesa, fisiológico, que as prepara para as situações de perigo ou ameaça. Dra. Melissa Mello detalha como esta defesa coloca as pessoas em alerta em situações de ansiedade. “Quando as pessoas enfrentam situações de estresse crônico, sem a percepção dessa situação e sem os necessários momentos de descanso e relaxamento para adequada recuperação do organismo, esse sistema de alarme pode ficar ‘desregulado’, liberando substâncias neuroquímicas continuamente no cérebro, gerando um estado de estresse constante em que o organismo parece não desligar, como se estivesse sendo submetido a uma situação de risco o tempo todo”, detalha.

É possível aliviar a tensão?

No final do ano, o sentimento de frustração gera um grande desconforto nas pessoas, que podem levar à ansiedade extrema e também à depressão. Essa angústia pode ter como consequência um sono desregulado, preocupações excessivas, sensação de cansaço, desânimo, indisposição e tristeza profunda.

Para a psicóloga, Dra. Alessandra Salina Brandão, não são somente os momentos de pausa para respirar ou acolhimento de familiares e amigos que são anticorpos contra a ansiedade. A causa está diretamente ligada no estilo de vida das pessoas. “Considerando que a ansiedade esteja relacionada com as questões de final de ano, como cumprimento de metas profissionais e pessoais, uma discussão importante a ser feita é: ‘O que é essencial para mim?’. A resposta a essa pergunta pode ajudar a refletir sobre o estilo de vida que as pessoas estão levando e o quanto esse estilo de vida pode amenizar ou potencializar a ansiedade. Se a prioridade é que tudo dê certo no trabalho e a probabilidade de frustração é grande, logo a ansiedade também será muito grande, pois, muitos fatores além do empenho pessoal interferem no trabalho. Mas, quando as pessoas se dedicam a outros aspectos da vida além do trabalho, isso aumenta as chances de outros ganhos, como por exemplo, o carinho dos amigos ou a sensação de corpo saudável por conta dos exercícios físicos, e esses fatores aumentam as chances das pessoas se sentirem bem e com menos ansiedade”, analisa.

Técnicas de relaxamento e respiração profunda também podem contribuir para amenizar sensações de ansiedade. “Essas técnicas podem contribuir para que se consiga diminuir a ansiedade momentaneamente e, desse modo, fazer em seguida uma leitura mais cuidadosa do ambiente e como está a interação com o meio. Por exemplo, os estudos científicos da área da psicologia demonstram que pessoas mais habilidosas socialmente tendem a apresentar menos ansiedade, nesse sentido, não basta a pessoa usar técnicas momentâneas para conseguir lidar com os desafios do seu contexto, mas torna-se essencial uma leitura sobre como lida com o mesmo”, atenta a psicóloga.

Para as duas especialistas, é urgente que a sociedade entenda e considere que a ansiedade patológica tem se tornado um fenômeno cada vez mais comum. As contradições econômicas e sociais têm um impacto direto na saúde mental e, nesse sentido, não se pode individualizar o problema. “Por isso, é irresponsável afirmar que basta a pessoa ser ‘bem resolvida’ que ela estará imune à ansiedade patológica. Torna-se essencial discutir com a sociedade como é possível ampliar fatores de proteção, incluindo tanto comportamentos individuais quanto ações institucionais, como as características de funcionamento das famílias, escolas e empresas”, alerta Dra. Alessandra Salina Brandão.

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