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“Faça exercícios, alimente-se bem e esteja sempre perto de quem você gosta”

Quando criança eu sempre assistia um comercial na TV, provavelmente veiculado pela Sociedade Brasileira de Cardiologia, que dizia assim: “cuide bem do seu coração: faça exercícios, alimente-se bem e esteja sempre perto de quem você gosta”. Com minha percepção infantil, eu achava engraçada essa frase e pensava: “o coração físico e as emoções são coisas separadas, que engraçado terem misturado tudo”.

Engraçado mesmo era meu pensamento, pois sim, tudo está interligado em nós. E sim, estar perto de quem gostamos, ou, mantermos interações sociais saudáveis é um fator de proteção muito importante para nossa saúde física e mental, já comprovado por diferentes estudos científicos.

Um estudo longitudinal feito pela Universidade de Harvard acompanhou uma geração de mais de 700 meninos, da adolescência até o momento de publicação do trabalho, onde cerca de 60 participantes estavam vivos e com quase 90 anos. Os dados da pesquisa indicaram que o maior fator preditor de uma velhice saudável foi a qualidade dos vínculos sociais cultivados. Especificamente na saúde mental, os estudos atestam uma relação positiva entre habilidades de interação social e menores índices de depressão e ansiedade.

Além da ciência, a arte sempre aborda a associação entre as relações afetivas e saúde. Renato Teixeira, em sua música Amizade Sincera, destaca essa relação:

“A amizade sincera
É um santo remédio, é um abrigo seguro
É natural da amizade
O abraço, o aperto de mão, o sorriso…”.

(Caso você queira escutar esta obra do Renato Teixeira, é só clicar aqui!)

Guimarães Rosa também proporciona a mesma reflexão:

“Qualquer amor já é um pouquinho de saúde, um descanso na loucura”.

Assim, a ciência e a arte sempre estão nos mostrando as vantagens das boas interações sociais. Mas, o quê seria uma interação social de boa qualidade ou uma relação saudável? A psicologia nos dá algumas respostas. Existe um campo de estudos chamado de Habilidades Sociais, o qual descreve as vantagens de desenvolvermos um padrão socialmente habilidoso, sem manter um repertório passivo ou agressivo.

Pessoas com um repertório socialmente habilidoso conseguem respeitar os seus próprios direitos e desejos e expressar isso aos seus interlocutores de forma respeitosa. Essa área de estudos fornece alguns modelos sobre como podemos expressar sentimentos positivos e negativos, fazer e receber críticas, pedir mudança de comportamento, dentre outros repertórios sociais.

Dentro das relações saudáveis, existe uma categoria ainda mais especial: as relações de intimidade. São nessas interações que conseguimos mostrar como somos e sermos acolhidos e compreendidos. Essa vivência não é exclusiva do amor romântico, mas também pode ocorrer, por exemplo, nas relações entre pais e filhos, irmãos e amigos. Em alguns momentos, mesmo nas relações que não são de intimidade, a expressão dos nossos sentimentos e desejos mais genuínos pode ser a melhor escolha para a resolução de problemas ou ajustes nos vínculos.

Brené Brawn, uma pesquisadora e professora norte-americana, discute esse tema com profundidade. Por meio de suas pesquisas e após ouvir os relatos de muitas pessoas, ela descreve como a vergonha e a busca pela perfeição atrapalham nossas interações. Brené analisa como todos nós, costumeiramente, sentimos vergonha de nos expor como somos e, diante do medo da rejeição, tentamos aparentar perfeição, o que gera frustração em nós e em nossos interlocutores, pois essa característica não faz parte da nossa condição humana. Consequentemente, perdemos a oportunidade de estabelecermos verdadeiras conexões.

Tanto as Habilidades Sociais quanto o repertório mais específico de construção e manutenção de vínculos de intimidade são desafiadores para a maioria de nós. Infelizmente, ainda não temos uma cultura e política educacional de incentivo ao desenvolvimento de habilidades socioemocionais. Mas, o importante é que podemos nos comprometer com o desenvolvimento e aperfeiçoamento dessas habilidades.

Sobre a autora:

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Dra. Alessandra Salina Brandão

Alessandra Salina Brandão – Psicóloga clínica, especialista em terapia comportamental e cognitiva pela USP-SP e doutora em psicologia pela USP-Ribeirão Preto. Gosta de descomplicar a psicologia e busca, por meio de seus textos, contribuir para que um número maior de pessoas tenha acesso ao conhecimento científico dessa área.

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