Na fase pré-vestibular, tem se tornado cada vez mais frequente a ocorrência de ansiedade em jovens
O segundo semestre do ano é o período em que os estudantes se preparam intensamente para os vestibulares. Dúvidas, pesquisas, incertezas e muita ansiedade são alguns dos elementos que provavelmente fazem parte da vida do vestibulando. Como qualquer estudante no fim do Ensino Médio, os jovens buscam descobrir suas aptidões para determinadas profissões.
Nesta fase da vida, importante para a preparação do futuro, muitas cobranças são impostas, como a pressão dos pais em relação à qual profissão escolher, dos professores da escola e dos próprios amigos. É aí que a ansiedade entra em questão, pois a cobrança, juntamente com a incerteza e muitas dúvidas, provoca a mistura de vários sentimentos, medos e responsabilidades que ainda não foram desenvolvidas no estudante.
Segundo a Dra. Alessandra Salina Brandão, psicóloga clínica do Instituto de Análise do Comportamento Bauru (IACB), a família é muito importante nesta etapa de aprendizado: “A família pode se constituir como um ótimo fator de proteção para essa fase da vida dos vestibulandos, por exemplo, auxiliando o estudante a ter um hábito saudável de estudos: alguns estudantes, diante da ansiedade para passar nas provas, acabam por estudar demasiadamente e a prestar mais atenção ao número de horas de estudos em detrimento do quanto estão efetivamente aprendendo. A família também pode auxiliar o jovem a analisar a prova do vestibular dentro de um contexto maior de um projeto de vida, de forma a aceitar a possibilidade de uma reprovação. A educadora Lídia Hortelio tem uma frase que pode ajudar nesta reflexão: ‘ninguém nasceu para fazer vestibular, a gente nasceu para ser gente, em todas as nossas dimensões’”.
A ansiedade é uma emoção normal do ser humano, comum ao se enfrentar algum problema ou quando devemos tomar decisões difíceis. No entanto, a ansiedade excessiva pode ser prejudicial à saúde quando não controlada. Muitas vezes, é importante buscar ajuda profissional para que a emoção em excesso não provoque limitações graves.
“A ansiedade se configura como um conjunto de reações emocionais, como sudorese, rubor facial, taquicardia, as quais são apresentadas diante de situações de perigo e/ou ameaça. Considera-se que a ansiedade chegou a um nível patológico quando começa a trazer muito sofrimento para quem a vivencia e/ou prejuízos significativos para o exercício das funções cotidianas, como no caso dos vestibulandos, o envolvimento com os estudos”, explica a psicóloga.
Os adolescentes, principalmente quando estão no caminho para a vida adulta, entre 17 e 18 anos, no final da vida escolar, ainda estão em fase de desenvolvimento emocional, descobrindo novas coisas e criando novas responsabilidades. Neste período, é comum que alguns estudantes desenvolvam ansiedade excessiva diante de todas as emoções e pressões que estão vivendo. Para o controle e equilíbrio emocional, muitas vezes é necessário que a família procure ajuda especializada para o acompanhamento e estabilidade das emoções vivenciadas pelo adolescente, evitando problemas psicológicos graves no futuro.
Nesse sentido, a psicóloga explica como a psicologia pode contribuir com essa demanda. “Em um primeiro momento é feito um diagnóstico para compreender qual o nível de ansiedade apresentado pelo jovem e se o mesmo já apresenta algum transtorno de ansiedade, entre eles: ansiedade generalizada, síndrome do pânico, fobias específicas, entre outros. Paralelamente são investigados os possíveis fatores ambientais relacionados a esse quadro. Realizada a avaliação psicológica parte-se para a intervenção, a qual visará dar suporte ao cliente em relação às fragilidades inicialmente diagnosticadas e poderá incluir um plano de orientação profissional, desenvolvimento de hábitos de estudos, desenvolvimento de habilidades sociais para manejo de conflitos familiares e estratégias para lidar com reações excessivas de ansiedade”, destaca.
A ansiedade pode atrapalhar no dia do vestibular, como provocar “brancos”, o esquecimento de conteúdo, sintomas de mal estar, dores de cabeça e insônia, consequência da responsabilidade de decidir o próprio futuro através de uma prova. Alguns cuidados são importantes e auxiliam neste equilíbrio emocional e na escolha de qual profissão seguir.
“Investir em seu autoconhecimento e no conhecimento da realidade profissional é um dos aspectos que pode contribuir muito para o processo de escolha de uma profissão e, consequentemente, para a diminuição das respostas de ansiedade. Em relação ao autoconhecimento, torna-se muito válido refletir sobre as vivências pessoais e acadêmicas que o vestibulando teve durante a sua história e, a partir das mesmas, identificar quais dessas experiências lhe fizeram mais sentido e como essas poderão ser vivenciadas dentro de uma futura profissão. Consequentemente, conhecer a realidade profissional por meio de visitas dirigidas, conversas com profissionais da área e estudantes dos cursos almejados torna-se uma ótima ferramenta para o estudante ter informações mais concretas”, recomenda a especialista.
Os casos de ansiedade em estudantes não se restringem apenas ao vestibular, mas ao Ensino Médio como um todo, pois torna-se etapa de preparação do estudante para o mercado de trabalho, vida adulta e cidadania em exercício.
“Hoje esse cenário é muito estressante para os jovens brasileiros, em particular. Devemos lembrar que o ensino médio, enquanto etapa final da educação básica, tem por finalidade maior o desenvolvimento do indivíduo, assegurando-lhe a formação comum indispensável para o exercício da cidadania, fornecendo-lhe os meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores, isso segundo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB). No entanto, devido à distribuição desigual de renda à nossa população e, consequentemente, à possibilidade do acesso ao curso superior como uma chance de ascensão social, o ensino médio vem se tornando cada vez mais uma contingência de cobrança e de sinalização de concorrência, o que contribui muito para as reações de ansiedade no grupo de estudantes como um todo, mostrando que esse não é um fenômeno particular, mas, coletivo”, alerta a psicóloga, Alessandra Salina Brandão.